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REUNIÕES E PROCESSO SELETIVO DE ESTÁGIO CHEGAM AO METAVERSO
Um candidato a estágio na Ambev este ano teve 20 milhões de possibilidades para customizar o seu avatar com cabelos, roupas, acessórios e tons de pele diferentes. Isso porque seu processo seletivo aconteceu no metaverso. Segundo Nathalya Crisanti Rigitano, gerente global de cultura na Ambev, o intuito de os candidatos utilizarem o novo espaço digital foi viabilizar uma maior conexão entre eles e a empresa.
Essa experiência corporativa ainda é para poucos, porque no Brasil as companhias estão em uma fase inicial de adoção desses recursos. O processo da Ambev, que envolve ferramentas de realidade virtual, por exemplo, ainda é um projeto piloto.
Rigitano conta que a plataforma permite a interação com NPCs (personagens não jogáveis) que representam os funcionários da companhia. “Lá, os candidatos podem saber mais sobre a empresa, receber dicas sobre a etapa final e como participar de uma dinâmica de grupo, entre outras atividades”.
De olho no potencial que o metaverso pode ter no mundo do trabalho, algumas corporações resolveram substituir plataformas de videochamadas tradicionais. É o caso do Viseu Advogados, empresa que diz ser o ‘primeiro escritório de advocacia a entrar no metaverso’. Os sócios têm usado a tecnologia para fazer reuniões com clientes e, de quebra, entender como funciona esse território.
“Nós visualizamos a oportunidade de estar num novo ambiente que nos permitisse acompanhar essa tecnologia e aconselhar os nossos clientes que estão interessados em levar os seus negócios para esse novo mundo. São esses mesmos clientes que nos procuram para realizar reuniões dentro do metaverso”, afirma Ricardo Martins Motta, sócio do Viseu Advogados.
Byron Mendes, professor do curso “metaverso e oportunidades de trabalho” e CEO da Metaverse Agency, diz que há uma tendência das organizações em utilizar o espaço virtual para promover encontros. “Já podemos observar algumas empresas adotando plataformas que permitem reuniões em ambientes imersivos, onde o funcionário é representado por um avatar, ou por meio de dispositivos de realidade mista nos quais os colaboradores conseguem interagir em espaços híbridos e personalizáveis”, afirma.
Outra empresa que está apostando neste potencial é a Housi, que realizou uma venda de imóvel no metaverso, e decidiu aproveitar o investimento nessas tecnologias para promover uma festa para suas equipes. O evento aconteceu no formato “figital”, sendo realizado simultaneamente em uma das lojas da Housi em São Paulo e no rooftop do prédio onde a companhia está sediada na plataforma desenvolvida no blockchain Decentraland. “Isso gera um senso de pertencimento. Os funcionários que não puderam viajar e comparecer presencialmente tiveram a oportunidade de participar com os seus avatares, ouvindo o mesmo DJ, e interagindo com as mesmas pessoas, na mesma festa”, pontua Alexandre Frankel, CEO da Housi.
No exterior, algumas companhias têm aprimorado a experiência de seus funcionários usando tecnologias relacionadas ao metaverso. Nos EUA, a PepsiCo promoveu uma conferência para 450 funcionários utilizando óculos de realidade virtual por meio da plataforma Mytaverse.
No final do ano passado, o empresário Bill Gates afirmou que “dentro de dois ou três anos todas as reuniões virtuais poderão acontecer no metaverso”. E um estudo conduzido pela PwC prevê que, em 2030, cerca de 23 milhões e meio de funcionários ao redor do globo usarão tecnologias de realidade aumentada e virtual para treinamentos de equipes e reuniões.
A Meta (ex-Facebook) afirma que esse ambiente ainda está em fase de materialização, o que deve demorar de 5 a 10 anos. “Podemos dizer que é o próximo capítulo da internet e que, no momento, estamos no estágio de ‘internet discada’ do desenvolvimento do metaverso”, avalia Caroline Dalmolin, líder de parcerias estratégicas da Meta na América Latina. E como será esse espaço quando se concretizar?
“Muita gente pensa que o metaverso é sinônimo de realidade virtual. Mas o fato é que será um fluxo contínuo de experiências 2D e 3D – desde uma videochamada como fazemos hoje, passando pela realidade aumentada, totalmente imersiva, até um universo de ambientes 3D em realidade virtual, todos interconectados”, afirma Dalmolin.
Mendes, da Metaverse Agency, é otimista em relação à evolução desses recursos. “Já existem soluções que permitem uma interação menos enfadonha como as que acontecem em reuniões de videochamadas e, no futuro, através de gráficos mais aperfeiçoados, capacidade computacional elevada e internet de maior velocidade, conseguiremos ter uma sensação de imersão capaz de emular com ainda mais exatidão a realidade física”, acredita.
E há empresas acreditando que a forma como trabalhamos será inevitavelmente afetada pelo metaverso e suas tecnologias no futuro. “O metaverso pode trazer a possibilidade de arrumar emprego em qualquer lugar. É uma forma de distribuir melhor a renda para além das grandes capitais em países de dimensões continentais como o Brasil”, pondera Dalmolin.
Motta, do Viseu Advogados, destaca as diferentes oportunidades de carreira que devem surgir conforme aumente o interesse pelo metaverso. “Diversas profissões devem ser criadas e muitas áreas do direito terão de ser expandidas para lidar com questões que irão aparecer como compliance para funcionários de empresas que atuarem nesse território”, alerta.
Já Frankel, da Housi, visualiza mudanças no curto prazo: “O metaverso pode revolucionar a forma como as pessoas participam de eventos corporativos. Acredito que ainda neste final de ano veremos chamadas do tipo: ‘festa da empresa no metaverso’, unindo equipes internacionais no mesmo ambiente digital!”.
Publicado por Valor
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