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Metaverso: 10 profissões do futuro
A arquiteta recém-formada Geórgia Cauduro, desde que saiu da faculdade, trabalha com algo inusitado. Em vez de um escritório de arquitetura, ela é parte da Pixit, empresa de tecnologia para comunicação em marketing. E, no lugar de interagir com empreiteiros e engenheiros, Cauduro colabora com programadores e especialistas em UX (experiência do usuário) para projetar novos mundos e ambientes virtuais.
Essa é apenas uma das novas profissões que devem ganhar espaço com a expansão do metaverso. Visto por alguns como a nova fase da internet, ele promete replicar a realidade – e criar novas – através de dispositivos digitais e da realidade virtual. Assim, em vez de entrarmos em um site em 2D, teríamos uma experiência imersiva, caminhando e interagindo com outras pessoas e conteúdos, quase como em um videogame.
O termo ganhou popularidade com o anúncio de Mark Zuckerberg de que o Facebook iria passar a se chamar Meta, na tentativa de se posicionar na liderança dessa tecnologia, mas ela já tem adeptos há algum tempo.
Na Pixit, por exemplo, onde Cauduro trabalha, desenvolver metaversos tem sido a ambição nos últimos anos. “Em 2018 fizemos uma análise de quais plataformas eram o futuro”, diz Flávio Machado, CEO da Pixit. “A partir daí começamos a ver que o modelo de metaverso, em 360º e em 3D era a resposta.” Em 2019, a empresa já lançava a primeira versão da plataforma. Normalmente, diz Machado, as empresas entram no metaverso para abrigar algum conteúdo ou um evento digital – a partir daí, o uso começa a crescer e o metaverso passa a ser uma ferramenta de vendas, por exemplo, ou de relacionamento com os clientes.
Assim, outros usos possíveis do metaverso são fazer espaços de reunião e de encontro, hubs de conteúdo e plataformas para treinamentos e convivência de funcionários. Com a pandemia, a adesão à tecnologia subiu, já que muitas atividades se viram restritas ao on-line. Nesse período, o número de empregados da Pixit triplicou e a empresa já desenvolve metaversos para países da América Latina e Europa, além dos Estados Unidos. “A vantagem do metaverso é que o tempo de navegação média nele é acima de 30 minutos, tempo que nenhum site comum consegue atingir”, diz.
Um dos projetos de que Cauduro participou foi a feira agropecuária da Coopercitrus, que passou para o metaverso depois da pandemia e foi reproduzida para ser fiel à versão da vida real – e chegou a abrigar 140 expositores em 2021, atingindo recorde de negociações. Mas as possibilidades, Cauduro conta, são muitas. “A maior diferença de trabalhar com o metaverso é que as barreiras acabam caindo.” Diferente do mundo físico, no metaverso não há terrenos com tamanhos específicos ou apenas os materiais de construção disponíveis no mercado e que caibam no orçamento. Tanto que o maior desafio foi justamente perceber que ela não era obrigada a fazer exatamente como é na vida real.
“Não precisamos que o projeto tenha uma estrutura que pare em pé e que vá durar, isso deixa a gente muito livre para criar e propor coisas diferentes”, diz Cauduro. “Entrei com tudo que tinha aprendido na arquitetura, só precisei entender a navegação e desapegar da parede de alvenaria.”
Agora, conforme as plataformas estão ficando mais robustas, Cauduro também está recebendo treinamento mais intenso para aprender a lidar com as novas tecnologias e ferramentas. “É uma nova vertente que busca inovação o tempo todo, precisa ter vontade de aprender porque tem sempre novas ferramentas e estilos”, diz.
Outra diferença da arquitetura no metaverso é a utilização do espaço pelas pessoas. Se as distâncias não importam no metaverso, os ambientes precisam ser interessantes o suficiente para manter a experiência de imersão. “Precisamos pensar que o usuário acessa sempre de um ponto e nosso trabalho é projetar de forma que desperte a curiosidade para ele ir partindo para outros pontos e continue navegando”, diz Cauduro. Para projetar tudo isso, ela está em uma equipe com outros arquitetos, projetistas de plataforma e designers de UX. Depois, o projeto vai para a equipe de desenvolvedores. “É muito colaborativo, não tem como trabalhar sozinho, e existe muito essa troca entre as equipes.”
Advogados no metaverso
Já há, inclusive, advogados no metaverso. Em busca de se antecipar à tendência, o Viseu Advogados lançou, em fevereiro de 2022, o seu escritório virtual. No mercado há 30 anos, o escritório vem se focando nas questões de inovação e ligadas à tecnologia, e se antecipar nas práticas faz parte dessa estratégia. Lá, por exemplo, já é possível para os advogados receberem honorários em criptomoedas. Já a presença no metaverso vem também para se preparar para uma possível nova área do direito. “Todo novo ambiente faz surgir questões contratuais, de marca, estatutárias”, diz o advogado Gustavo Viseu, CEO do escritório. Um exemplo seria a compra e venda de espaços no metaverso, o que deve gerar uma espécie de setor imobiliário virtual.
A plataforma utilizada é o AltspaceVR, da Microsoft, que abriga o escritório em 3D. É possível, inclusive, usar óculos de realidade virtual para acessar o ambiente. “É uma experiência muito imersiva, você entra e pode se conectar com outras pessoas que estão lá”, diz Viseu. Assim, em vez do Zoom, as reuniões do escritório podem ser feitas nesse ambiente virtual. No lugar das imagens de webcam, as pessoas são representadas por avatares – espécies de bonecos que representam cada um no metaverso. Mas, no futuro, a ideia é que esses avatares tenham realmente a cara de cada, comenta Viseu.
Para ele, até agora, a experiência tem sido positiva. “Você acaba focando mais no assunto, a conversa flui bem”, diz Viseu, que conta que a novidade vem gerando curiosidade dos clientes, que querem conhecer e entender o novo ambiente. “O desafio é que se já está todo mundo acostumado à videoconferência, o metaverso talvez leve mais empo, porque não é uma necessidade imediata.”
As novas profissões no metaverso
Com o metaverso, profissões que já existem devem ser adaptadas, como no caso dos arquitetos, enquanto outras devem surgir. “O metaverso é uma tecnologia nova, usabilidade nova, precisamos de profissionais com vontade de aprender, testar, participar”, diz Machado. “É um momento desafiador porque tudo está em transformação.” Uma das áreas que ele destaca, por exemplo, são os analistas de dados, já que o metaverso gera um volume enorme de dados e informações. Entender o perfil dos visitantes, a interação com o metaverso e quais os conteúdos e ferramentas mais relevantes poderão ser algumas das funções desses profissionais. Outro exemplo são designers especializados em 3D, que também devem ser cada vez mais demandados.
Já há um site com vagas de emprego para o metaverso, e a plataforma Analytics Insight publicou uma lista com 10 profissões que devem surgir com o metaverso:
- Cientista pesquisador do metaverso – será responsável por construir a fundação das aplicações do metaverso, como infraestruturas funcionais e soluções
- Engenheiro blockchain – criará e desenhará soluções em blockchain específicas para o metaverso.
- Estrategista de NFT – será responsável por analisar as tendências do mercado e fornecer insights e oportunidades sobre a tecnologia e empregos no metaverso.
- Planejador do metaverso – criará a infraestrutura de crescimento para os negócios no metaverso, construindo um portfólio estratégico de oportunidades, conceitos pilotos e desenvolvimento.
- Desenvolvedor de ecossistema – esse profissional coordenará parcerias e governos para assegurar que as funcionalidades existentes sejam possíveis em uma plataforma em larga escala.
- Engenheiro de software metaverso – deverá pesquisar e desenvolver novos programas e sistemas operacionais de computador adequados para o metaverso, além de avaliar programas que já existem para ver o que precisa ser adaptado.
- Gerente de segurança do metaverso – buscará prever possíveis usos maliciosos da plataforma e identificar quais componentes, sistemas e etapas na produção seriam essenciais para prevenir esses usos.
- Expert em cibersegurança no metaverso – teria como função bloquear ataques em tempo real, por exemplo, e inventar aplicações para detectar riscos no Metaverso.
- Cientista de dados no metaverso – esse já é um dos cargos mais demandados, uma vez que o metaverso é feito de dados – e deve gerar ainda mais dados conforme ganha adesão.
- Especialista em nuvem no metaverso – com a quantidade de dados e plataformas sendo geradas, o metaverso exigirá ainda mais armazenamento em nuvem. Esse profissional gerenciará esse armazenamento e garantir a segurança dos dados.
Publicado por Valor