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DENTRO DO METAVERSO: COMO É A IMERSÃO NO MUNDO VIRTUAL
Toda a comunidade de tecnologia está falando sobre o metaverso. Nenhum outro assunto foi mais comentado durante o South by Southwest (SXSW), maior festival de inovação do mundo. A corrida para ver quem chega mais perto desse novo universo digital envolve big techs como a Meta, a Microsoft e a Nvidia, empresas de games como a Roblox e a Epic Games, e gigantes chinesas como a Baidu.
Mas afinal, como é o metaverso? De que maneira ele se diferencia dos games que já existem no mercado, como o Fortnite e o veterano Second Life? Época NEGÓCIOS foi convidada a experimentar uma experiência no metaverso criada pelo Viseu Advogados.
O escritório anunciou recentemente a inauguração de sua unidade virtual para reuniões e eventos. A ideia é antecipar a tendência e principalmente acompanhar de perto os movimentos do setor, que ainda precisa de regulação.
“Percebemos que nossos clientes querem compreender os aspectos jurídicos desse universo virtual”, explica o CEO, Gustavo Viseu. “Estamos no início de uma nova disciplina do direito. Queremos monitorar o mercado para entender quais são as implicações na vida do consumidor e das empresas e tornar esse ‘direito do metaverso’ mais simples para todos.”
O ambiente escolhido foi o AltspaceVR, da Microsoft. “Comparando as opções disponíveis, avaliamos que essa oferecia o melhor equilíbrio entre inovação e eficiência”, afirma o COO, Edoardo de Stefano. “Não queríamos que um unicórnio passasse correndo no meio de uma reunião, como acontece no Decentraland.”
Entrando no metaverso
O escritório do Viseu Advogados ocupa um andar inteiro de um edifício na Vila Olímpia. Ao sair do elevador, o visitante é recebido em uma sala de espera que leva a um ambiente com uma extensa mesa ocupada por profissionais, que vai quase de ponta a ponta. Nas extremidades há salas de reunião separadas por divisórias de vidro, que permitem visualizar as janelas e a vista.
Em uma dessas salas, Edoardo de Stefano estava me aguardando para realizarmos a experiência. A primeira coisa que ele me perguntou antes de colocar os óculos de realidade virtual e as manoplas foi: “Você costuma ter tontura? E tem o hábito de jogar videogame?”
Já fui muito aficionado por jogos de PC e console e, embora nunca tivesse usado um óculos VR na vida, não achei que teria problemas. Os acessórios são conectados a um computador ou um celular por meio de um aplicativo. Ele verificou se os óculos estavam bem ajustados à minha cabeça – e, confesso, eles precisam ficar um tanto apertados – e me deu instruções.
Dentro do ambiente de realidade virtual, logo à minha frente, havia um menu inicial flutuante. Eu estava em uma espécie de lobby futurista, com sofás e uma fogueira ao centro, coberto por uma estrutura arquitetônica pós-moderna e com vista para montanhas.
Chararam a atenção a nitidez das estruturas, a qualidade dos gráficos e a precisão dos movimentos. Mas os comandos são tão diferentes daqueles de um simples videogame que tive um certo “delay” para seguir as instruções que Edoardo me passava.
De volta ao menu, selecionei “entrar em uma reunião”. Uma tela de carregamento aparece, com informações úteis sobre o Altspace, mas não demora muito para aterrissar no ambiente do escritório.
Sou recebido por dois avatares: Ana Ligia Moreira Guimarães, head da área de Pessoas e Cultura, e Alexandre Góes, desenvolvedor que projetou todo o ambiente. O microfone e os alto-falantes dimensionais são embutidos no próprio óculos e oferecem uma boa noção de profundidade.
Percebo pela primeira vez que também sou um avatar: tenho mãos (manoplas) e um corpo (sem pernas). Posso me movimentar tanto pelos controles nas manoplas quanto mexendo a cabeça e andando na vida real. À esquerda, um pequeno menu de interações me acompanha, permitindo tirar fotos, pesquisar na web e falar por emojis.
O espaço tem dois andares com janelas do chão ao teto e vista para a Vila Olímpia. Chego mais perto para olhar a altura do prédio e escuto Ana dizer atrás de mim: “Cuidado ao olhar a vista, tem gente que fica com tontura”. E parece que, no instante em que ela falou, a minha mente disparou o gatilho e caiu na armadilha de associar a realidade virtual com a real.
Senti uma leve náusea. Para me distrair, me concentrei na ideia de que aquilo era apenas um jogo, como se estivesse diante de uma tela de computador, controlando o jogador pelos comandos. E funcionou.
O primeiro andar tem sofás, um pequeno jardim e um projetor com slides sobre o Viseu Advogados, como se fosse uma sala de espera. O segundo tem uma mesa de reunião, outro projetor e um ambiente de descontração, com vista para o jardim no piso de baixo, pufes e até uma pequena bolinha de papel, para ficar arremessando em uma conversa informal.
Encerrei o tour tirando uma selfie e me sentindo um pouco frustrado. A experiência de realidade virtual existe há anos em videogames e não consigo deixar de pensar em como o termo metaverso está sendo usado como um truque de marketing para vender algo que já existia.
A novidade, de fato, é o uso em ambientes corporativos. Mas esse uso ainda não é disseminado, nem algo natural na rotina de trabalho. Como o próprio Edoardo comentou, ninguém tem o costume de chegar ao escritório e entrar no metaverso. Deve demorar muito tempo para que isso se torne um hábito.
O Viseu Advogados realizou encontros com dois clientes no mundo virtual. Ambos foram até o escritório para utilizar os acessórios e o feedback foi positivo. Apesar de não ser nova, a experiência é realmente muito interessante, e quem testa tem vontade de passar mais tempo lá dentro.
Para quem não possui os equipamentos – que, pelo alto custo, também são uma barreira para a popularização da RV –, é possível acessar o espaço por um smartphone ou computador comum. Mas, definitivamente, sem os óculos e as manoplas, não dá nem para usar a palavra metaverso. A graça está na imersão. Resta acompanhar esse mercado para saber se os acessórios ficarão mais acessíveis e as pessoas ganharão o hábito de utilizá-los.
Publicado por Época Negócios